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O peso invisível da farda: a crise de saúde mental entre policiais no Brasil

Em entrevista ao Prodecast, podcast sobre segurança pública e privada, a psicóloga Patrícia Gama evidenciou a urgência de políticas de saúde mental para oficiais

A saúde mental é um problema recorrente na vida do brasileiro. Segundo o estudo Calendário da Saúde, realizado em 2024, 45% dos entrevistados relatam sofrer de ansiedade, enquanto 9% afirmam ter depressão.

O país vive uma crise de saúde mental, atingindo níveis recordes no último ano e chegando à marca de quase meio milhão de afastamentos por transtornos mentais, de acordo com dados do Ministério de Previdência Social. Ao todo, foram concedidas 472 mil licenças médicas por transtornos psicológicos, representando um salto de 68% em relação ao ano anterior.

Os números se tornam ainda mais graves quando analisamos setores específicos da sociedade, como, por exemplo, as polícias. Entre os batalhões militares e civis, responsáveis por garantir a lei e a ordem para a população, a taxa de suicídios registrou recordes negativos nos últimos anos. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 110 oficiais tiraram sua própria vida em 2023, um crescimento de 26% em relação aos 12 meses anteriores.

Para efeito comparativo, no mesmo ano, o relatório aponta que 107 oficiais faleceram em combate nas ruas. Dessa forma, pela primeira vez na história, o número de mortes em atividade foi inferior ao de suicídios nas corporações. Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, onde estão os maiores efetivos da Polícia Militar, registraram aumentos de 80% e 116% no número de suicídios desses profissionais, respectivamente.

“Os números mostram, a depressão e a ansiedade são dois problemas reais no Brasil. Temos as taxas mais elevadas destas doenças na América Latina. Agora, imagine ser policial e conviver com a pressão diária imposta pela profissão. Lidar com o paradigma de precisar se mostrar forte e inabalável, ao mesmo tempo, em que se tem a responsabilidade de defender a população de organizações criminosas fortemente armadas. É necessário olhar e cuidar da saúde mental dos nossos oficiais para preservarmos a vida desses profissionais. Caso contrário, a taxa de suicídio seguirá crescendo nas corporações”, afirmou, em entrevista ao Prodecast

O fato de o suicídio ser a principal causa de morte em uma profissão onde ocorrem diariamente trocas de tiros, perseguições e enfrentamentos com o crime organizado é um alerta para a necessidade de maior atenção e cuidado com a saúde mental dos profissionais fardados do país. Seja pela perda de sensibilidade, pela necessidade de se mostrar firme ou pela pressão da profissão, a verdade é que o maior inimigo da polícia, hoje, não está nas ruas, mas sim na mente dos próprios oficiais.